sábado, 25 de abril de 2015

Cisões no futebol carioca - parte 4.1 - Os grandes se dividem

Depois dos acontecimentos de 1933, o futebol do Rio seguiria dividido em 1934. Mais uma vez aconteceriam dois campeonatos: um disputado sob os auspícios da liga amadora (AMEA), e o outro disputado sob o patrocínio da liga profissional (LCF).
 
Na LCF foi disputado um campeonato com sete clubes: os mesmos seis do ano anterior (Fluminense, Vasco, Bangu, América, Flamengo e Bonsucesso), mais o São Cristóvão que venceu a "sub-liga" da LCF (uma espécie de segunda divisão) e por isso fora convidado a participar da primeira em 1934. Todos jogaram contra todos e no fim o Vasco conquistou o seu quarto título carioca com um time recheado de craques como Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Fausto (o "Maravilha Negra"), Itália e outros. Esse campeonato teve total sucesso. Muitos dos jogadores de times amadores migraram para clubes que já tinha adotado o profissionalismo, atraídos pelos ganhos melhores que tal regime podia lhes proporcionar. Além disso, por conter entre seus afiliados a maioria dos maiores clubes da cidade, houve um maior interesse do público em geral.
 

Vasco da Gama campeão de 1934 pela LCF
Em pé: Baianinho, Mola, Gradim, Carreiro, Russinho, Jucá, Gringo, Quarenta, Almir e Rei.
Agachados: Orlando, Tinoco, Fausto, Lino, Itália, Leônidas da Silva e Domingos da Guia
 
Na enfraquecida AMEA, foi disputado um campeonato marcado por desistências e fracasso de público. A disputa que se iniciou com 10 clubes, terminou com apenas cinco: Botafogo, Olaria, Andaraí, Portuguesa e Mavilis (desistiram da disputa: Cocotá, Confiança, Engenho de Dentro, Brasil e Ríver). O Botafogo se sagrou tricampeão.
 
 
Mas o fato mais importante de 1934 acabou não ocorrendo nos gramados e deu início a quarta (e até hoje, a última...) cisão no futebol carioca.
 
A CBD, que havia rejeitado a filiação das ligas profissionais, passava a constatar que o profissionalismo era uma evolução natural do futebol e que vencer a batalha pela manutenção do amadorismo era algo praticamente impossível. Teve essa percepção a partir dos problemas que enfrentou para formar um selecionado para disputa da Copa do Mundo de 1934 na Itália. As ligas profissionais não cederam os seus jogadores e mesmo aqueles que optavam por abandonar as ligas profissionais e servirem à seleção brasileira, já eram jogadores profissionais e não aceitavam a volta ao regime amador. Como resultado, a CBD mandou para Itália um time fraco que acabou sendo eliminado na primeira partida (Espanha 3 x 1 Brasil) e conseguindo um vergonhoso 14º lugar.
 
Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1934
 
No fim de 1934, por ocasião da disputa de uma regata, o Flamengo protestou contra a classificação de um páreo vencido pelo Vasco. Outros clubes, entre os quais o Fluminense que, apesar de não disputarem o remo, eram filiados à federação de remo por esta também administrar outros esportes aquáticos como a natação, o salto ornamental e o polo aquático, tomaram partido do Flamengo.
 
Os cartolas do Botafogo, praticamente os mesmos que controlavam a CBD, aproveitando-se desse impasse, sugeriram ao Vasco a formação de uma nova liga, onde seria estabelecido o chamado "regime livre", em que a adoção do amadorismo ou do profissionalismo, seria uma opção livre do clube. Tudo isso sob a promessa de reconhecimento da CBD, o que tornaria os certames da futura liga, campeonatos oficiais.
 
O Vasco aceitou a proposta e abandonou a LCF para juntamente com o Botafogo, fundar a Federação Metropolitana de Desportos (FMD), imediatamente reconhecida pela CBD, e que extinguiu a moribunda AMEA. Sob a influência do Vasco da Gama e interessados no novo regime livre e no reconhecimento da CBD, outros clubes seguiram o Vasco (Bangu, São Cristóvão, etc.).
 
Em 1935 e 1936 o futebol do Rio seguiu dividido em duas ligas: LCF e FMD.
 
Pela LCF em 1935, o América sagrou-se campeão carioca pela sexta vez na sua história; enquanto que pela FMD, o Botafogo conquistava o título pela quarta vez consecutiva, igualando o feito do Fluminense (1906-09), mas em ligas diferentes, se tornando tetracampeão carioca.
 
Em 1936, pela LCF finalmente o Fluminense voltou a comemorar um título estadual, dando fim a um jejum que já durava 12 anos! E pela FMD, o Vasco volta a ser campeão e interrompe a série de títulos do Botafogo.
 
A divisão só teria fim no ano seguinte, em 1937... (segue).

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